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Os Persas e a Intercultural Cultural com os Gregos

 

Maria Clara Storino *

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Resumo: Este artigo aborda os variados aspectos da sociedade e cultura persa, em especial o período do governo de Dario I e Xerxes, fazendo um paralelo com a cultura grega. Discorre também sobre o Irã atual e seus desafios num contexto contemporâneo. Palavras-Chave:


Palavras-Chave: Pérsia; guerra; rhyton.

 

A abordagem histórica nos permite traçar um paralelo entre o passado e o tempo presente e o Irã detém um passado histórico e na atualidade ocupa um lugar de destaque no cenário de países em maior evidencia global. Na sua antiguidade o Irã era identificado como sendo a Pérsia e os gregos nomearam como região dos povos medos. O Império dos Medos e sua expansão deteve acentuada e expressiva atuação no campo social, militar, cultural e econômico. A Era contemporânea do Irã é composta por um período de proximidade com o Ocidente e sólidas relações diplomáticas com os Estados Unidos durante o antigo governo do Xá Reza Pahlevi. Quando em 1979 ocorreu a Revolução Iraniana liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini (vertente xiita) que transformou o Irã em um país tradicional e extremista islâmico. A partir desse momento, o Irã, sob os holofotes de potencias mundiais, adquire narrativas negativas, sendo visto como uma ameaça terrorista. O Irã manteve o primeiro plano devido a guerra na região do golfo pérsico (1990- 1991), ação que não é algo exclusivamente contemporâneo, desde a Antiguidade Clássica esse território desperta interesses e passa por conflitos, seja com países próximos ou distantes como a Grécia (Guerras Medicas, 490 e 480 a.C.). Lembrando que foram os gregos que criaram o termo Pérsia (que perdurou até o Século XX) para designar o Império Aquemênida. Esse Império foi um dos mais vastos do Oriente antigo, tanto que seu governante era chamado de “Rei dos Reis”.

Fig. Nº 01. Representação de um persa usando anaxyrides, vaso ático, Alabastro grego, 510-500 a.C.)

Fig. Nº 02 Um persa usando tiara, 312 aC. Archeological Museum, Istambul

Os persas despertaram o interesse dos gregos como nos aponta os vasos de cerâmica ática com representação dos medos ou persas. Seus feitos militares, sua cultura e sociedade foram marcados pela dramaturgia de Esquilo, em cerâmica modelo Alabastros e em relatos de viajantes helênicos como Heródoto, podemos afirmar que as informações e relatos detém um aspecto positivo ou seja, criou-se um discurso euforizado sobre a cultura dos persas. A documentação mostra o fascínio e interesse dos gregos pelos aquemênidas, como por exemplo o espanto dos gregos pelo fato dos medos usarem calças compridas, identificadas como anaxyrídes e considerada indumentária feminina, fato demarcado nas imagens dos vasos de cerâmica ática nos modelos: alabastros, kylix e crateras. Apontamos também o uso da tiara, ou seja, uma espécie de turbante que servia para cobrir tanto a cabeça quanto o rosto em momentos de intemperes.

Outro dado interessante refere-se ao período do sexto até o sétimo século a.C no qual o zoroastrismo foi a religião oficial do Império persa. A palavra “Zoroastro” vem do grego e significa luz. De acordo com essa crença maniqueísta, havia uma luta entre o Bem (Ahura-Mazda) e o Mal (Ahriman) e no final Ahura- Mazda venceria essa disputa. Prega-se que o fiel tinha que praticar boas ações visando, após a morte, habitar o “pairidaeza” (palavra que deixa transparecer a origem ao termo judaico-cristão paraíso). Atualmente existem seguidores de Zaratustra no mundo moderno, concentrados principalmente na Índia e no próprio Irã.

O Império persa, durante o governo de Dario, era dividido em 23 unidades político-administrativas, que eram chamadas de Satrapías e as principais eram Pérsia, Babilônia, Assíria e Jonia. Dessas regiões vinham os integrantes que formavam o “exército imortal”, que era formado por cerca de 10.000 soldados que eram considerados leais monarca regente. Eles eram chamados de imortais porque assim que um guerreiro morria outro imediatamente o substituía, mantendo uma alta rotatividade do exército persa.

Podemos dizer que os hábitos alimentares dos persas chamaram a atenção de Heródoto como nos aponta a citação I:133 no qual o autor expõe que a parcela abastada da sociedade Aquemênida oferecia banquetes com carne de animais de grande porte (cavalo, camelo, asno e boi). O ato dos gregos e romanos realizarem a alimentação em banquete de maneira reclinada, foi um habito adquiridos da realeza persa. A ação se estendia a pratica da alimentação do persa que era composta basicamente de cevada, leite de cabra e, esporadicamente, comiam carne. Tomavam vinho regularmente em recipientes de metal ornamentado com forma de um animal, nomeado como rhyton.  O modelo de taça de vinho nomeada de rhyton adquiriu acentuada repercussão entre a realeza palaciana dos helenos que diante da escassez de metal como ouro, reproduziram a taça de vinho – rhyton em argila ática.

Fig. nº03. Golden rhyton from Iran's Achaemenid period

 

Fig.nº 04 Pottery rhyton, decorated with red-figure Excavated at Ecbatana. Kept at National Museum of Iran satyrs cavorting, c. 450 BC


Essas foram informações iniciais sobre as peculiares dos persas e sua cultura. Indicamos para o periodo clássico dos helenos, como documentação sobre os persas ou medos, o historiador grego Heródoto em dialogo com a iconografia de diferentes vasos de cerâmica ática que deixam transparecer os hábitos culturais e crenças religiosas dessa brilhante sociedade do passado que legou ao Ocidente o uso da anaxyrides/calça, o reclinar nos banquetes, o rhyton como taça de vinho e a phiale como utensílio religioso.

Bibliografia

SHAHBAZI, A. Shapur. The Authoritative Guide to Persepolis, Teerão: Safiran Publishing Co., 2011.

Revista Theos – Revista de Reflexão Teológica da Faculdade Teológica Batista de Campinas. Campinas: 6ª Edição, V.5 - Nº2 – Dezembro de 2009. ISSN: 1980-0215.

Persia, Las Guerras Médicas. Revista Historia Y Vida. Nº 427, outubro de 2003. 114 páginas.

Maria Clara Nunes Storino Baccarin * - Lattes

Graduanda em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Pesquisadora do Núcleo de Estudos da Antiguidade (NEA/UERJ)